fevereiro 28, 2006

VO(lt)AR ... ?


"migratory love" de Amy Ruppel

fevereiro 26, 2006

libro de nanas


O mundo das rimas infantis tradicionais é-me fascinante. Está cheio de abraços, colos, embalos, mas também de sustos terríveis e fantasmas. Dos vários que tenho sobre o assunto, guardo um livro precioso... Libro de Nanas, da Mediavaca. Tenho-o pela encadernação e sobretudo, pelas ilustrações da Noemi Villamuza. São absolutamente coerentes com este mundo dos inícios: doces e ríspidas, às vezes mesmo em simbiose completa de antagonias. A mão que risca é nítida nos traços e sombras feitos a carvão e isso acentua esta ideia de vida assim ( forte e frágil ) que é a nossa desde sempre. A história das rimas de embalar é também a história das mães, que antes disso são pessoas e mulheres. É um mundo fascinante.

fevereiro 24, 2006

encontro (des)


Encontrei-a assim, num rectângulo de chão de rua conseguido azul, numa feira de "coisas velhas". Fiquei muito tempo a olhá-la sem lhe pegar. Queria não desfazer nada daquilo que ela guardava de uma qualquer vida que tivesse tido. Percebi as mãos de quem lhe imaginou este vestido e o aconchegou ao corpo de lã. Inventei os gestos cuidadosos que de certeza aconteceram para o entrançado do cabelo. Por isso não pude perceber como é que ela estava ali ... Guardei-a dentro da minha câmera, julguei que me chegava. Agora percebo que não.

estar dentro


fotos minhas

fevereiro 21, 2006

the boy who was followed home

Este livro tem muitos anos nas minhas mãos... mais do que isso, tem muitos anos nos meus olhos e na minha cabeça. Reli-o hoje e o admirável é que continua a produzir em mim um efeito forte, não pela nostalgia do tempo que passou, mas porque, deveras, consegue agarrar a si crianças muito pequenas e depois continuar a interessar todas as idades em que for lido, mesmo umas décadas depois.
Percebi com ele a literatura como um lugar possível para outras lógicas. Fiquei absolutamente presa ao nonsense e à estranheza que ora me aproximavam ora me distanciavam, como um baloiço hipnótico de onde não conseguia ( nem queria ) sair. A ilustração tem um papel fundamental neste jogo, pela técnica esbatida, pelos pontos de vista. A relação texto-imagem é indissociável para que a história aconteça. Brilhante!
Fui à livraria. Foi re-editado pelos Livros Horizonte, uma editora exemplar na selecção de títulos para crianças. Só queria que o outro livro ilustrado pelo Steven Kellogg que a Helena me mostrou também o fosse, porque esse nunca foi meu e é também um livro sem prazo de validade. Lá dentro tem uma jibóia.

fevereiro 20, 2006

pó de beijos


ilustração de Marta Torrão

ler em ping-pong

as narrativas que a publicidade consegue interessam-me bastante. Sobretudo as que com um mínimo de elementos dizem muitas coisas. E isto porque implicam profundamente o leitor ( de textos e de imagens ), fazem-se "a e para dois", guardando para quem descodifica um papel de relevo no jogo de imaginar: tratam-no como ser criativo.
Através do contra-indicado, descobri no outro dia How Advertising Spoiled Me, um blog da Índia que recolhe e disponibiliza um acervo muito interessante deste tipo de anúncios. Encontrei entretanto um outro: Ad Blather.
"More education for girls in Islamic countries."

fevereiro 19, 2006

fogo de pássaro


Era uma vez um pássaro de fogo que tinha o poder de fazer voltar à vida as pessoas transformadas em estátuas... como se dizia ontem aos meninos na Gulbenkian, "as almas quando regressam sabem sempre a que corpos pertencem".
Esta é a pena que guardei do pássaro de fogo. Era branca. O fogo será a cor de quem a agarrar.

fevereiro 18, 2006

a perda - ilustração de Mara Cerri



às vezes é assim...
hoje cruzei-me com este
texto de várias maneiras.
Encontrei-o na Alquimia do Tempo,
depois de na voz do Sérgio e...

- Então porque não voas?
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste

Sérgio Godinho - Biografia do Amor

fevereiro 17, 2006

"materiais"


outra vez para a Joana
que (sabe lê-lo e)
tem a coragem de ser este poema

Um coração
faz-se de amoras.

Uma mão
faz-se de galhos.

Uma flor
faz-se zumbindo.

Uma árvore
faz-se de ninhos.

Um cavalo
faz-se de vento.

Uma nuvem
faz-se de linho.

Um rio
faz-se de silêncio.

Uma casa
faz-se por dentro.

João Pedro Messeder

ilustração de piero corva, via flor de papel

fevereiro 16, 2006


Que belo jardim inteiro recebi eu hoje!
O design e a ilustração são Planeta Tangerina.
Apetece coleccionar e guardar repetidos para a troca
todos os programas do S.E. do Centro Cultural de Cascais.
Como sempre que os vejo impressos, parabéns
à Isabel, ao João, à Madalena e ao Bernardo.

fevereiro 15, 2006

candeeiros de emoções


É um mundo liliputiano, iluminado e móvel. Fala dos sonhos e faz-nos falar do que sentimos com todos os sentidos. São sete candeeiros onde habitam muitas pessoas fotografadas em movimento.
Registaram-se-lhes a imagem dos corpos e os sons que agora acompanham esta visita. Podemos escolher um de que gostemos mais e guardá-lo/caçá-lo numa caixa especial. E há também um lugar para nos livrarmos dos pesadelos ou dos seus restos que por dentro de nós ainda estejam - nos buracos dos ouvidos, dentro do nariz, nas pontas dos cabelos ou nos calcanhares, presumo eu.
Podemos iluminarmo-nos até Domingo próximo. É no CCB.
( imagens supreendentemente razoáveis pelo meu tmv )

fevereiro 14, 2006

fevereiro 13, 2006

night at the tv-movies



She hangs up. The two are now almost face to face. Robert raises her hand up and slips his free one around her waist. They begin to dance to the song. The kitchen lights have not been turned on since the sun went down. The sky, a dark orange and magenta, illuminates the room through the window. They never take their eyes off of each other. Suddenly, Robert stops.
ROBERT - You're shaking. Are you cold?
Francesca shakes her head. They dance a bit more, but Francesca is shaking which makes it difficult. They both stop. Robert places his huge hands on either side of her face, gently stroking her hair away from her cheek. He whispers.
ROBERT (cont'd) - If you want me to stop, tell me how... Francesca, I won't be sorry. I won't apologize for this. FRANCESCA - Nobody's asking you to.
....
"And in that moment, everything I knew to be true about myself up until then was gone. I was acting like another woman, yet I was more myself than ever before."
( THE BRIDGES OF MADISON COUNTY - screenplay adaption by Richard LaGravenese - FIRST DRAFT - 1994 )

liquid...
( está bem, confesso...acho que esta noite, a segunda vez em que vi este filme, foi ainda um bocadinho pior :)

imagem: liquidskyarts

fevereiro 12, 2006

fevereiro 10, 2006

a vida secreta das palavras


Ainda não vi o filme e tão depressa não quero saber muito do seu enredo para poder continuar a guardar, livre, esta frase. Aliás, os títulos de Isabel Coixet falam-me como um texto completo. Deve ser por isso que também não vi A Minha Vida Sem Mim ( para além do poético, dá-me o título que eu não tinha para alguns dos meus dias que são exactamente assim!).
Longe do corpo-filme a que pertence, guardo a frase "a vida secreta das palavras" como um dos temas que trago destes dias na Galiza... as palavras ditas, as palavras olhar, as palavras-imagens sem palavras, só as palavras como corpo real, palavras-clic, palavras silêncio, as mesmas palavras com outra música, as palavras que escondem, palavras inventadas, as palavras que se adivinham, as palavras na ponta dos dedos...
Engraçado como se tecem leves tecidos de sentido a partir de situações absolutamente díspares, concretas, pragmáticas. Por isso gosto de títulos.
E juro, foi apenas quando tinha já titulado este post e me levantei entretanto para buscar uma chávena de chá, que me dei realmente conta do exacto título deste livro, no cimo da pilha de vários outros livros que trouxe comigo:


Escolhi-o à pressa numa livraria a um minuto de fechar - não hesitei pelo tema, por ser da Media Vaca e um objecto total muito interessante ( a um preço muito convidativo ). Funciona isoladamente mas liga-se também a uma exposição que esteve na Coruña.

"Hay libros que tenemos a nuestro lado veinte años sin leerlos, libros de los que no nos alejamos, que llevamos de una ciudad a otra, de un país a otro, cuidadosamente empaquetados, aunque haya muy poco sitio, y que tal vez hojeamos en el momento de sacarlos de la maleta, sin embargo, nos guardamos muy bien de leer aunque sólo sea una frase completa..." ( e parei. Bastou para que o fechasse e levasse... reconheço-me )

La Vida Secreta de Las Palabras + La Vida Secreta de Los Libros... falo de tecidos e encontros parecidos com este.

fevereiro 09, 2006

pablo amargo













Quando fala de si, Pablo Amargo é muito parecido com os seus trabalhos gráficos: preciso, económico, claro e profundo. É um perfeccionista muito lúcido.
É um privilégio reencontrá-lo, desta vez com tempo a sério para deixar correr a conversa.
O Pablo orienta um curso sobre ilustraçao ( e nao de ilustraçao ) estes dias por aqui. Hoje, como estou livre a essa hora pedi-lhe para assistir. Pela pertinência, actualidade e rigor do que espreitei ontem na sua sala de trabalho, ainda por cima sobre um tema que me é tao caro e que é raro ver tradado assim, tenho a impressao que lamentarei muito os outros dois dias e o amanha em que nao pude/poderei estar.
ps. continuo sem tils, mas neste outro computador já consigo mais ou menos fazer parágrafos :)

fevereiro 08, 2006

ponte

Estou em Pontevedra. Ontem, alguém me iria buscar a Porto-Campanha ( já descobri que aqui nao vou ter tils senao para o ñ, que nao me interessa e também nao consigo fazer parágrafos, o que dará um texto engraçado, todo corrido). Lá estava o Carlos, membro da Organizacao do VII Salón do Libro Infantil e Xuvenil, apaixonado como todos os galegos que conheço por Portugal. E há muito desse amor no som destas duas línguas... Sinto o galego e português como um casal - marido e mulher - de tempos antigos. Intimidade. Ouço diferente o português falado pelos brasileiros, um depois aberto: filho. Na hora de caminho até aqui, o Carlos contava-me muitas coisas e os horrores da mae - nascida, criada e sempre vivida em Vila Boa, uma terra muito pequenina - às grandes cidades: "Precisa de muita segurança, da sua casinha... Se uma luz, uma lampara se rompe na casa, para ela é como se uma estrela, o sol ou a lua se rompessem", disse, abrandando o carro e apontado para o céu escuro. Dicionário básico: nai - mae neno/nena - menino/menina bico - beijo ( e é por isso que uma amiga daqui, o que mais desejava ver, na primeira vez que fosse a Lisboa, era a Casa dos Bicos, imaginando histórias magnifícas de amores impossíveis à beira do Tejo. Pois.... Aquela fria casa de pedra ... desiludida, só ao fim de meia-hora alguém lhe explicou. )

fevereiro 07, 2006

lembras-te, Caia?




Fotografei-a para ti no outro dia, numa feira de velharias na Praça de Londres...
Imagina, numa feira de velharias!
( Pois, deve ser... faz sentido... usei o telemóvel para guardar a imagem. No tempo da Heidi os telemoveis só existiam nas séries de ficção científica da televisão, tipo espaço 1999, e esses nem sequer tiravam fotografias :)
E, se reparares na cara da menina estampada na tampa da caixa de costura, se calhar também a reconheces... lembras-te daquele tear que tínhamos? Devia ser da mesma colecção.
Só que, o mais absolutamente incrível do tempo e da memória que os objectos guardam de/em nós, é que consigo sentir como se fosse agora a textura do vestido daquelas bonecas, diferente da camisola mais macia, e me lembro do cheiro bom da pele de borracha que eu adorava.
Lembro-me de ti... lembro-me de nós ( também duas ).

fevereiro 06, 2006

tread softly



Para o Pedro que hoje, ao sol, me lembrou ( sem se lembrar
muito bem ) de Yeats e que amanhã parte,
levado pelo o ar de todos os pássaros...
( vai ser muito bom! )

E este era o poema. É um dos mais conhecidos e repetidos e...
mas arrepia-me sempre que o leio ou, melhor, quando o ouço na voz.

Had I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.

Tivesse eu as bordadas vestes dos céus
tecidas com a luz do ouro e da prata
o azul e o sombrio e os negros trajes
da noite e a luz e a média luz
Eu espalharia essas roupas sob os teus pés.
Mas, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Tenho espalhado os meus sonhos sob os teus pés.
Pisa suavemente, porque caminhas sobre os meus sonhos.

foto: ParkeHarrisson

fevereiro 05, 2006

flying ( back )


... e, extraordináriamente, este voo que nasce do fundo das minhas memórias de mim, encontrei-o ontem, no fundo da terra...
Lembro-me de acreditar que era verdade... aquele voar era mesmo possível porque aquelas pessoas eram de "carne e osso" e viviam vidas de pessoas a sério; não era um mundo exclusivo de seres diferentes, à parte, um mundo de fadas só fadas... Percebo agora que dai se desenhou a base da minha noção de magia literária e narrativa: o irreal partirá do real concreto e vice-versa, numa relação fluída que se interpenetra constantemente. Se pensar bem, os contos tradicionais/maravilhosos são também assim.
Lembro-me também do guarda-chuva e da vassoura despida do limpa-chaminé, dos telhados em vez de chão, da mala e do armário com portas a abrir e a fechar tresloucadamente, lembro-me da ordem que não era o inverso do rodopio que faz realmente voar.
Lembro-me muito do pedacinho de filme em fita castanha numa bobine de enrolar ( incluía só as primeiras cenas ) que o meu pai comprou e que projectávamos em dias felizes na parede da sala; umas vezes o som não disparava e inventávamos o texto que sabíamos de cor, à espera que a voz da Julie Andrews finalmente soasse. E porque era em inglês sem legendas, para mim era ainda mais "mágico" ( e por isso mais real! ).
Eu queria ser a Mary Poppins, lembro-me de acreditar...
Guardei esta imagem ontem from the underground on the London Subway . Está desfocada de propósito ;)

fevereiro 01, 2006

fragile wings



voo nas asas do vento...
as asas que me trazem aqui ...
e me suspendem ( por tudo o resto )

para mim, esta noite


Ashes and Snow