março 04, 2006

as casas também choram...


ilustração de Marta Neto, uma das artistas da "ilustra"

Não sei o que aconteceu... ( ou, se calhar sei! ) ... mas não é possível que, no mesmo dia, em dois lugares diferentes da casa, canos distantes e sem relação directa se ponham a pingar. Foi o que se passou hoje. Primeiro na cozinha, por baixo do lava-louças, discretamente, mas já tinha enchido duas panelas. Fechei o contador até à ajuda prometida amanhã. Não suportando conter-se, agora é a torneira do próprio contador ( fechado ) que pinga!

Coincidências em demasia...

5 comentários :

Anónimo disse...

Parece que existem sentimentos que não suportam mais serem contidos...
Lá no fundo, dentro de nossa casa, protegidos do mundo, eles começam a brotar.
Que hajam boas vasilhas e um ótimo encanador!

125_azul disse...

Não apresses o rio, ele corre sozinho. Nunca me lembro quem disse isto, mas é mesmo assim. Tudo tem seu tempo "canos distantes e sem ligação directa", se calhar estão só distantes, mas têm ligação sim! Que o canalizador venha a seu tempo, encontre e repare os problemas e que a casa perceba quando deve deixar de chorar e quando for o tempo de voltar a sorrir.

Fábia disse...

Já que o assunto é coincidências com partes distantes e sem ligação direta, não é curioso que outro dia enquanto eu postava um comentário no seu Vo(lt)ar, você também estava postando um comentário no meu blog...

Inês Rosa disse...

É tão giro ver como se pode dizer a mesma coisa de maneiras tão diferentes, originando pensamentos tão diferentes. O título que deste a este post deu-me vontade de escrever uma história sobre casas que choram. E se escrevesses mesmo uma ? ;)

Anónimo disse...

as pingueiras como metáforas da vida...ha um conto muito bom duma escritora uruguaia, Cristina Peri Rossi, conhecem? que falaba do tapon (nao sei como se diz em portugues) duma garrafa de lexía que nao era capaz de abrir. este suceso, sem importancia ao incio, acababa em se converter numa metáfora da vida. De qualquer forma, gostaba enviar para a casa que chora, um poema de Mario Benedetti, um dos meus poetas preferidos, por ver se a casa bota un sorriso, ainda que seja suave...
Defender la alegría como una trinchera
defenderla del escándalo y la rutina
de la miseria y los miserables
de las ausencias transitorias
y la definitivas
defender la alegría como un principio
defenderla del pasmo y las pesadillas
de los neutrales y de los neutrones
de las dulces infamias
y los graves diagnósticos

defender la alegría como una bandera
defenderla del rayo y la melancolía
de los ingenuos y de los canallas
de la retórica los paros cardíacos
y de las endemias y las academias

defender la alegría como un destino
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas
de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres

defender la alegría como un certeza
defenderla del óxido y la roña
de la famosa pátina del tiempo
del relente y del oportunismo
de los proxenetas de la risa

defender la alegría como un derecho
defenderla de dios y del invierno
de las mayúsculas y de la muerte
de los apellidos y las lástimas
del azar
y también de la alegría.

Eva Mejuto...