junho 29, 2009

O Poema

O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto.

2 comentários :

Pedro_Berenguer disse...

Bela escolha. É um dos meus preferidos da Sophia.

Angela disse...

Dora querida, vim aqui, atravessando mares e ventanias, encontrar o verão deste seu dia para desejar a você muitas alegrias e tudo de melhor que houver nesta vida.
Um beijo e o carinho da Angela.