O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto.
junho 29, 2009
junho 28, 2009
inédito(s)
"(...) Parecia-lhe que tinha braços e pernas a mais. Pois quando entrava numa sala tropeçava no tapete, pisava as senhoras e dava sempre uma cotovelada em alguém. Tinha que passar a vida a pedir desculpa.
E à noite abria a janela do seu quarto, respirava o vento que vinha de longe, olhava as estrelas e pensava na liberdade.
Já não era um rapaz pequeno mas ainda não era um rapaz crescido(...)"
As palavras são, nos dois casos, de Sophia. Um inédito. Um conto para crianças, "Os ciganos". Fotografado o manuscrito e publicado no DN de Sábado.
Quem me conhece, sabe o que gosto de palavras. Gosto-lhes do som, do movimento dos lábios ao pronunciar as que elejo, do corpo ar que diz antes de dizer o que tem dentro. Depois ( ou antes, ou simultaneamente, nunca sei ), há a escrita da tinta ou do carvão. No rasto das mãos enquanto desenham os bailes do pensamento como fotografia, a natureza é outra, mais dialógica. Vejo de fora para dentro do outro. É mais perto da respiração original e desse som fundo. É mais quente. É mais tudo.
Deve ser por isso que me emocionei de jornal na mão, enquanto o folheava distraidamente na tabacaria...
( porque sim, perto da minha casa, há um lugar onde posso tocar nos jornais e nas revistas, antes de os comprar. É lá que vou sempre e onde, por essa liberdade rara, gasto algum dinheiro todos os dias. Muito mais que antes, quando só havia os dois quiosques e a tabacaria do centro comercial, todos muito impermeaveis e sem miolo: só capas. Assim continuam. )
... são as palavras de Sophia. De duas maneiras, novas: a primeira página de um conto infantil, nunca publicado (a intenção da família será fazê-lo, diz o Jornal), a primeira página do seu caderno manuscrito. E a folha de papel de jornal na minha mão é, por segundos, a mesma.
E à noite abria a janela do seu quarto, respirava o vento que vinha de longe, olhava as estrelas e pensava na liberdade.
Já não era um rapaz pequeno mas ainda não era um rapaz crescido(...)"
As palavras são, nos dois casos, de Sophia. Um inédito. Um conto para crianças, "Os ciganos". Fotografado o manuscrito e publicado no DN de Sábado.
Quem me conhece, sabe o que gosto de palavras. Gosto-lhes do som, do movimento dos lábios ao pronunciar as que elejo, do corpo ar que diz antes de dizer o que tem dentro. Depois ( ou antes, ou simultaneamente, nunca sei ), há a escrita da tinta ou do carvão. No rasto das mãos enquanto desenham os bailes do pensamento como fotografia, a natureza é outra, mais dialógica. Vejo de fora para dentro do outro. É mais perto da respiração original e desse som fundo. É mais quente. É mais tudo.
Deve ser por isso que me emocionei de jornal na mão, enquanto o folheava distraidamente na tabacaria...
( porque sim, perto da minha casa, há um lugar onde posso tocar nos jornais e nas revistas, antes de os comprar. É lá que vou sempre e onde, por essa liberdade rara, gasto algum dinheiro todos os dias. Muito mais que antes, quando só havia os dois quiosques e a tabacaria do centro comercial, todos muito impermeaveis e sem miolo: só capas. Assim continuam. )
... são as palavras de Sophia. De duas maneiras, novas: a primeira página de um conto infantil, nunca publicado (a intenção da família será fazê-lo, diz o Jornal), a primeira página do seu caderno manuscrito. E a folha de papel de jornal na minha mão é, por segundos, a mesma.
junho 26, 2009
junho 21, 2009
junho 19, 2009
junho 17, 2009
humo, fume: fumo
(...)
Nunca choro,
porque a um bebé que choramingava pela noite
levaram-no, e a mãe dele não pára de gritar;
e eu não quero que a mamã grite.
Hoje ela está contente
porque viu o papá através do arame farpado,
quando vinha de trabalhar.
(...)
Agora, a traduzi-lo. ☆
Nunca choro,
porque a um bebé que choramingava pela noite
levaram-no, e a mãe dele não pára de gritar;
e eu não quero que a mamã grite.
Hoje ela está contente
porque viu o papá através do arame farpado,
quando vinha de trabalhar.
(...)
Agora, a traduzi-lo. ☆
junho 12, 2009
isidro & pablo
Em Madrid (e aqui), o mundo miniatura com que, o prémio nacional de ilustração, Isidro Ferrer respondeu às perguntas de Pablo Neruda. O Libro de Las Preguntas, editado pela Media Vaca em 2006, em passeio tridimensional. A não perder: livro, exposição, site e óptimo catálogo pdf (pronto a ser descarregado :)
junho 07, 2009
reading Irfan Orga
( Um livro como este tem de ser lido na edição impressa, idealmente comprada na Galeri Kayseri em Sultanahmet, depois de um banho no, óptimo Historical Hammam, mesmo ali ao lado. Mas já que também existe, fica aqui a hipótese electronica. Vale a pena percorrer o mundo de Orga ).
junho 01, 2009
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