setembro 11, 2007

sapatinhos-de-saída-fina

assim lhes chamava a minha mãe. assim, a partir dela, lhes chamavamos eu e a minha irmã. tinham uma presilha com fivela de prender ao lado e eram arredondados à frente. o modelo clássico. normalmente eram pretos de verniz, brilhante e luzidio, como as ocasiões especiais invocadas por eles nas nossas cabeças. e, condizendo com essa luz, nunca envelheceram. os sapatinhos-de-saída-fina guardavam-se na sua compustura para as ocasiões - raras - que denominavam. eram regiões de realidade cujas fronteiras cabiam à minha mãe anunciar, correspondendo sobretudo a visitas mais ou menos estáticas a conhecidos, que raramente voltaríamos a encontrar: por ex. o director do liceu antigo onde a mãe deu aulas, a dª ausenda, o sr sá. outras inclusões possíveis: ida ao teatro. por sorte, ou por cumplicidade, quando íamos ao jardim zoológico ou a outros lugares com espaço e mais meninos para brincar, mesmo que em saídas de cerimónia, a mãe "afinava" as margens para que se excluíssem da zona geográfica "saída-fina" ( talvez daí a etimologia da designação : ), calçando-nos os sapatos de todos os dias para que corresssemos à vontade. assim lustrosos e espelhados, de ano para ano, ao ritmo dos pés que cresciam, a colecção de sapatinhos de verniz preto aumentava, brilhantes, luzidios, intactos, bem longe da vida que nos fez caminhar.
falava nesta categoria de sapatos na minha infância, outro dia com a inês. na casa dela, existia também, mas o nome mudava: eram os "sapatinhos tlec-tlec" ( porque, de novos, soavam assim ao andar ).

img. daqui

8 comentários :

125_azul disse...

Eu também tinha uns assim pretos, de verniz: estreava-os para uma saída importante e à segunda vez já estavam apertados e a fazer bolhas,tal o pouco uso. A suposição da tortura uqe era calçá-los conseguia tirar toda e excitação à saída (eu odiava-os!!!).
Beijinhos

Frioleiras disse...

Eu adoro estes sapatinhos, adoro varinhas de cond�o e adoro "sparkling", por isso ponho sempre esta imagem, no fim de cada m�s, qd resumo as "coisas" boas e as me�s, vividas nesse m�s...
Creio j� te ter dito que gosto muito do teu blogue...

Pedro Ludgero disse...

Saída-fina ganha sinónimo em tlec-tlec?

Brava poesia das coisas leves__

Fernando disse...

la levedad de las cosas que nos rodean...y hacen tanto por nosotros!...abrazos.

L’ÉCUME DES JOUR disse...

eu não gostava dos meus. nem das meias com folho que faziam o conjunto.
:-)

MC disse...

Eu tinha umas socas azuis que adorava, porque eram iguais �s da minha irm� mais velha que eu idolatrava. Mas desgra�a das desgra�as um dos pionaises que prendiam o pl�stico azul soltou-se e por cada 5 passos que eu dava, tinha de me sentar e martelar com a outra soca de rija madeira o pionais que teimosamente se soltava... Mas n�o deixou de ser por isso o meu cal�ado preferido! :)
Parab�ns pelo blog!

Nana disse...

Também tive desses sapatinhos de verniz, sem e com fivela, e herdados da minha mana (que tem mais 13 meses do que eu), por isso nunca novos a estrear ... E com as soquettes brancas a rigor ! Ele eram casamentos, baptisados, ou outras festas de natal, eles estavam em todas !Mas o que eu queria mesmo ter, eram as sandàlias "babies" que tinham as minhas primas e que nos nunca tivémos. Injustiças da vida ! Ha ha ha !...

Angela disse...

Adorei este post!
Pena que os sapatinhos não fossem vermelhos como o da Dorothy!